A
vivência da igreja simples (orgânica) em muito se assemelha a
dinâmica familiar. Isso se dá entre outros fatores, pela
proximidade e envolvimento entre os irmãos. Paulo destaca varias
semelhanças entre a relacionamento conjugal e a relação entre
Cristo e a Igreja. Neste sentido, podemos compreender os muitos
desafios inerentes àquilo que o apostolo chama de “mistério”
(v. 32).
De
fato, tanto a relação conjugal quanto a comunhão entre os membros
do Corpo, estão imersas em “mistérios”. Isso porque, há muitas
coisas a serem descobertas e outras tantas que jamais descobriremos
(entenderemos), ainda que empenhemo-nos ao máximo.
Reflitamos
sobre algumas questões “misteriosas” do ser igreja, a semelhança
da “misteriosa” relação conjugal.
O
mistério implícito nas diferenças. Como no casamento, ser igreja
com outros irmãos, é mergulhar no “mistério” da relação
entre diferentes. Nessa caminhada, há vários princípios
norteadores, entre os quais se destacam o amor e a submissão. Tais
diferenças podem ser tanto uma oportunidade de crescimento quanto
(infelizmente) razão para inúmeros conflitos de relacionamento e
ideias.
A
verdade é que, não há a mínima possibilidade de sermos igreja sem
encararmos e convivermos com as diferenças. Manter comunhão uns com
outros não significa plena fusão, mas, a disposição para amar e
submeter-se continuamente.
Como
no casamento: “o que Deus uniu” (os membros do Corpo) não pode
ser separado por questões secundárias ou meros gostos pessoais.
Podemos dizer que, na Igreja, fomos “casados” uns com outros,
para a unidade de partes (membros) distintas.
O
“mistério” revelado nos diferentes papéis. Cristo é a cabeça
do corpo e o homem o cabeça da mulher. Devemos estar sujeitos a
Cristo e uns aos outros, e o combustível para tal é o amor. Quem é
amado (igreja/esposa) se sujeita, pois quem ama não impõe sua
autoridade (Cristo/marido).
Nesta
relação há papéis e responsabilidades definidas, de modo que uma
parte (membro) não deve se sobrepor nem se desvalorizar em relação
às demais. Cada um recebeu pelo menos um dom para cooperar com a
edificação (ver 1 Pe 4.10). Quando cada um assume suas
responsabilidades e respeita os outros, a caminhada se torna mais
leve e edificante, tornando-se um testemunho vivo para os que estão
de fora (ver At 2.47).
O
“misterioso” dilema entre o ideal e o real. O relacionamento
entre marido e mulher é cercado de ideais e desafios, envolto em
certa dose de paixão e atração. É comum cada uma das partes
desenvolverem certas expectativas em relação às outras. No
entanto, com o passar do tempo percebe-se que muitos dos ideais
estabelecidos, sucumbem ante a realidade da caminhada. O fato, é que
há um enorme abismo entre o ideal e o real, mas ambos caminham de
mãos dadas em qualquer relação; seja no casamento ou na vivencia
como igreja.
Temos
um ideal de amor pelo o Senhor e uns pelos outros, mas nem sempre
alcançamos o mesmo.
Objetivamos
estar mais integrados e participativos na caminhada, todavia, há
inúmeras questões diárias que nos impossibilitam.
Desejamos
deixar as amarras religiosas (institucionais), mas frequentemente nos
vemos presos a questões inimagináveis, como: tradições, ritos e
“achismos”.
Muitas
vezes somos como o marido que afirma amar a esposa, porém se
contradiz com seu autoritarismo e insensibilidade ante questões do
cotidiano ou como a esposa que se expõe por amor, mas não ama a
ponto de se sujeitar (colocar-se sob a missão do marido).
Idealizamos
a irmandade no convívio e no compartilhar, no entanto, nem sempre
nos sensibilizamos diante de necessidades explicitas.
O
ideal e o real fazem parte do cotidiano terreno, quer aceitemos ou
não.
O
“mistério” dos diferentes contextos. O casamento e a igreja unem
pessoas e histórias distintas. Na ultima, podemos encontrar todas as
classes, raças, culturas, formações, etc. O Corpo de Cristo é o
centro da celebração das diferenças.
Isso
se evidencia de maneira concreta nas peculiaridades de cada igreja
(grupo). Ainda que se reúnam na mesma ou cidade ou bairro, é
possível que cada um deles apresente características distintas.
Este “mistério” pode manifestar-se por meio do estilo da
reunião, da musica, da pratica dos dons e de muitas outras maneiras.
Os
diversos contextos geram uma diversidade de manifestações do modo
de ser igreja. Sendo assim, necessitamos de sensibilidade para
aceitar os diferentes e suas diferenças.
Uma
das maiores agressões ao verdadeiro espírito de comunidade é a
tentativa de impor certos costumes e praticas com sendo aplicáveis a
todos os contextos. Isso se trata de falta de entendimento a respeito
do Corpo de Cristo e sua multiplicidade (ver 1 Co 12.12-31, Ef
4.11-16).
Devemos
encarar o desafio de separar os princípios (mandamentos) divinos,
das questões culturais, geográficas, históricas, gostos pessoais e
tantas outras coisas. Os princípios divinos serão sempre imexíveis,
as demais questões dependerão sempre do contexto.
Continuemos
a caminhada envolta nestes e tantos outros “mistérios”.
guardemos a fé, a esperança e o amor; discernindo e sendo
discernidos na comunhão com o Senhor e com uns com os outros. Assim
seremos aperfeiçoados segundo a vontade daquele que nos “escolheu
antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
em sua presença” (Ef 1.4).
Riva
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